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Professora Lourdes recebe título de Cidadã Honorária de Cachoeira do Sul

 

Na noite desta terça-feira (22), a Câmara de Vereadores de Cachoeira do Sul concedeu a entrega de título honorífico de Cidadã Honorária à umbandista Dileta de Lourdes Xavier. Conhecida como Professora Lourdes, é natural de Restinga Seca e reside no município há 32 anos. No início da solenidade, a vice-prefeita do Município, Mariana Carlos, realizou a entrega da placa representativa do título. “Estou muito nervosa, jamais esperei que iria viver esse momento”, disse emocionada a Professora Lourdes.

Atuação

Propositor da cerimônia, o vereador e presidente da Câmara, Luis Paixão (PP), enalteceu o trabalho da homenageada. “A nossa querida Professora Lourdesatende centenas de pessoas em seu programa ‘A Hora Umbandista’ da Rádio Cachoeira e cerca de 480 pessoas por mês em seus três centros de atendimento. Assumiu por cinco anos a procissão de Iemanjá, contando com a presença de milhares de participantes. Desde que assumiu a presidência da Federação Espírita de Umbanda e Culto Afro-brasileiro, já conseguiu deixar a sua marca. Antes víamos oferenda em qualquer esquina de nossa cidade, sem o mínimo regramento. Tínhamos, também, o funcionamento de centros de umbanda que rufavam seus tambores até altas horas da noite, sem se preocupar com aqueles que precisavam repousar”, disse, destacando: “O trabalho social que fez, faz e fará merece nosso maior respeito. Em cada programa, em cada centro de atendimento, organizou inúmeras campanhas de agasalhos, de alimentos, utensílios para o lar, remédios, enfim, sempre soube cumprir o seu compromisso com seu semelhante”.

Em seu pronunciamento, Paixão também ressaltou a importância da Professora na vida de milhares de cachoeirenses que buscaram seu auxílio. “O ser humano, desde o principio de sua existência, sempre precisou crer em algo, pois o caminho que irá percorrer nesse mundo exige que tenhamos fé. Hoje vemos pessoas que encontraram o amparo, caminho e por que não dizer a salvação em suas palavras, aconselhamentos, na fé que depositam em sua pessoa”, afirmou.

História

A homenageada da noite, Professora Lourdes, relatou em seu discurso a sua trajetória de vida. “Fui uma menina que passei muita fome. Eu não tive pai e minha mãe, uma pessoa muito pobre, morreu aos 35 anos de idade. Aos cinco anos eu já estava em uma lavoura de batata, em Vale Vêneto, com os pés descalços na geada, na terra, enchendo saco de batatas. Eu me criei dentro do seminário dos padres, trabalhando pra eles. Nos finais de semana eu ia para casa. Visitava minha mãe, chegava lá com aquele valor para ajudá-la a alimentar meus 15 irmãos. O meu padrasto, com quem minha mãe teve os demais filhos, era domador, não morava com nós. Em razão de sua atividade, trabalhava na fazenda e ficava muito pouco em casa. Nós morávamos em uma área de terra que sofreu uma seca muito grande na década de 60 e muitos gados morreram de aftosa. Depois disso, vários irmãos meus vieram a falecer com a mesma doença. Todos praticamente morreram nos meus braços. Em 1974 eu perdi meu marido, perdi minha mãe e meus avós e tios. Perdi praticamente a minha família toda em um ano. Sozinha, criei o restante dos meus irmãos. Foi uma caminhada em que passei muito trabalho. Foi então que comecei a me apegar à religião. As pessoas dos centros que eu tinha em Santa Maria me apoiaram muito, mas eu senti que precisava sair de lá, mudar minha vida”.

Escolha de Cachoeira do Sul

A umbandista também contou como escolheu a cidade para morar. “Um dia cheguei na frente dos meus santos e disse: ‘Se for pra eu sair daqui eu vou fazer uma viagem, vou achar onde morar. E saí. Peguei um táxi, fui pra rodoviária e comprei uma passagem pra Porto Alegre.  No meio do trajeto, paramos em Cachoeira do Sul. Desci, tomei um cafezinho, fui muito bem tratada, gostei da cidade. Quando o motorista me chamou para seguirmos,  eu respondi que ficaria aqui mesmo. Retornando, cheguei em casa e avisei meus filhos que nós íamos viajar, que íamos para uma cidade vizinha, onde iríamos ser muito felizes, onde íamos começar tudo de novo. E assim foi. Foi aqui que encontrei uma família. Às vezes penso que em outras gerações eu tive alguma relação com essa cidade, porque no momento de desespero os meus orixás me trouxeram para cá”.

Cachoeira do Sul e religião

A Professora Lourdes também aproveitou a oportunidade para agradecer aos cachoeirenses pela recepção nas mais de três décadas em que está na cidade. “Nunca fui atacada por nenhuma pessoa, nenhum religioso foi contra mim nesses 32 anos que moro aqui. Nunca fui denegrida pela cor, religião ou por pessoas que tem mais do que eu. Sempre fui muito bem tratada. Por isso, minha alegria em ser considerada uma cidadã cachoeirense”.

A homenageada finalizou seu discurso engrandecendo as religiões. “Muitas vezes as pessoas tem uma imagem ruim da umbanda e quimbanda por causa do mau exemplo de alguns. Pra mim, primeiramente sempre é Deus. Meus filhos são batizados e crismados na católica. Adoro muito a Igreja católica. Admiro todas as religiões. Pra mim não tem uma diferente da outra, todas buscam o mesmo Deus. É só a maneira de conviver. É como uma família, onde nem todos são iguais dentro de uma casa. Na nossas religiões também há essa diferença, mas se olharmos pra cima o meu Deus é o mesmo de todos vocês”, concluiu.