Cachoeira inicia mobilização pelo centro de radioterapia

O pontapé inicial para o sonho da radioterapia no HCB foi dado na manhã desta quarta-feira. Para tratar do assunto estiveram reunidos o diretor administrativo do HCB, Luciano Morschell, o vereador Augusto Cesar e o secretário local do Partido Progressista, Júlio Lopes.

Conhecedor da dura realidade enfrentada pelos pacientes oncológicos que precisam deslocar-se diariamente a Santa Cruz do Sul em busca de tratamento, o parlamentar foi atrás de informações para saber por que Cachoeira do Sul ainda não dispõe deste serviço. O grande desafio, segundo Morschell, é o credenciamento do hospital para prestar os atendimentos radioterápicos pelo SUS, já que o investimento de mais de R$ 3 milhões em equipamentos precisa de um grande volume de atendimentos para se justificar, uma vez que os custos de manutenção são elevados, mesmo com o equipamento parado. "Estima-se uma demanda entre 500 a 750 mil indivíduos na área de cobertura para que a radioterapia seja viável e possa ser credenciada", esclarece o diretor do HCB.

Morschell revela que o HCB tem muito interesse em contar com um centro de radioterapia e que este é um desejo antigo da administração do hospital, pois o serviço qualificaria ainda mais o Centro Regional de Oncologia mantido pela instituição, colocando-o num nível de excelência. Ele destacou dois grandes motivos para o interesse do hospital, o primeiro seria o alívio ao sofrimento da população que precisa enfrentar os transtornos de deslocamentos diários para obter tratamento e o segundo é que o serviço de radioterapia é bastante lucrativo e bem remunerado pelo SUS.

Diante das dificuldades que a questão envolve, Morschell sugere a realização de uma grande mobilização política e comunitária para convencer o governo do estado a dar o aval ao Ministério da Saúde. "O estado é quem faz o estudo para redimensionar as áreas populacionais, e, consequentemente, definir a viabilidade ou não do serviço", observa.

UNIÃO - O vereador Augusto Cesar vai buscar o apoio de todas as bancadas da Câmara em prol deste desafio, também acionando entidades ligadas à rede de atenção aos portadores de câncer, como a Liga Feminina de Combate ao Câncer e o Imama. Enquanto isto, Luciano Morschell tratará de buscar o apoio da Coordenadoria Regional de Saúde, com a qual irá reunir-se já nesta sexta-feira. "Precisamos nos unir, pois a tarefa é complexa e demorada. Temos de concatenar o apoio da comunidade e de todas as entidades possíveis, desde Câmara e Prefeitura até os governos estadual e federal", concluiu Morschell.

PARCERIA - De acordo com o secretário de Atenção à Saúde (SAS) do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, o modelo ideal para implantação dos centros de radioterapia é através de parceria entre o Ministério da Saúde e o Governo do Estado em convênio com instituições filantrópicas, como é o caso do HCB. Outra forma de aquisição dos equipamentos seria através de emenda parlamentar, contudo, para que haja o credenciamento dos serviços, é indispensável a concordância do Estado e da União.

 

Fatores que podem favorecer o pleito de Cachoeira do Sul

O Ministério da Saúde está ampliando os serviços de radioterapia a 80 hospitais espalhados pelo Brasil que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS).  A medida faz parte do Plano de Expansão dos Serviços de Radioterapia no SUS, uma das ações do Ministério da Saúde para fortalecer a prevenção e controle do câncer na população brasileira. A medida aumentará em 32% a assistência aos pacientes com câncer, passando de 149 mil para 197 mil atendimentos por ano.

Haverá investimento de R$ 505 milhões. Estão sendo investidos recursos de R$ 325 milhões em infraestrutura, e o restante será aplicado na compra de 80 aceleradores lineares, além de outros acessórios.

Recentemente, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que a prevenção e o tratamento do câncer estão entre as grandes prioridades do governo federal. Segundo ele, o plano de expansão da radioterapia leva em conta a infraestrutura já existente nos hospitais que receberão os investimentos. Isto favorece Cachoeira do Sul, na medida em que o Centro de Oncologia, inaugurado em março do ano passado, oferece ótimas condições, conforme salienta Morschell.

Outra preocupação do governo federal é com a formação de médicos e outros profissionais de saúde para a atuação direta no combate ao câncer, como é o caso do físico médico (atua no planejamento da radioterapia), mão-de-obra qualificada difícil de encontrar no mercado de trabalho. "O problema dos profissionais seria resolvido com tranquilidade no HCB, pois alguns profissionais bastante credenciados já se ofereceram, inclusive para vir morar na cidade", disse o diretor do hospital.

Além disso, também é aspecto animador o fato de que, pela primeira vez na história, o governo do Estado deverá cumprir norma que determina aplicação de 12% do orçamento no setor. Na comparação com o ano passado, o orçamento da Secretaria Estadual da Saúde deu um salto de 50%, um acréscimo de mais de R$ 700 milhões.

 

Secretaria Estadual da Saúde terá verba recorde em 2013

O secretário da área, Ciro Simoni, promete grandes mudanças para este ano e o próximo. Essa transformação inédita foi obtida quase à força. De acordo com a Emenda Constitucional 29, do ano 2000, os Estados são obrigados a destinar à saúde 12% da sua receita líquida de impostos e transferências. Em lugar de aplicar a lei, o governo do Estado preferiu ao longo de uma década apelar para a malandragem: ano após ano, incluiu os gastos com saneamento na conta da saúde, atingindo artificialmente os 12%. Investiu, até 2011, no máximo 6% da receita. Das 27 unidades da federação, era a que gastava menos em saúde.

A maracutaia tornou-se impossível com a aprovação, em 2011, de uma regulamentação que impedia a manobra. No final do ano passado, depois de um acordo que cortou recursos de diferentes órgãos e poderes, a Assembleia aprovou um orçamento que destinava valores inéditos à saúde. O governo anunciou que os 12% haviam sido atingidos.

Quando assumiu a Secretaria Estadual da Saúde, em janeiro de 2011, Ciro Simoni tinha em mãos um orçamento de R$ 1,1 bilhão. Neste ano, vai contar com o dobro - R$ 2,22 bilhões - para investir.

 

METAS DE CIRO SIMONI

Entre as metas anunciadas pelo secretário estadual da Saúde, Ciro Simoni, estão a agilidade na oncologia e a regionalização dos atendimentos.

Agilidade na oncologia: serviços voltados ao atendimento do câncer seriam ampliados para alcançar a meta de que o prazo máximo entre o diagnóstico do tumor e a cirurgia ou início do tratamento seja de 30 dias.

Regionalização do atendimento: até 2014, o governo fortaleceria ou ampliaria hospitais em todas as 30 regiões em que o Estado foi dividido.

 

AUMENTO DO REPASSE AOS MUNICÍPIOS:

- R$ 15 milhões (2010);

- R$ 40 milhões (2011);

- R$ 80 milhões (2012);

- R$ 100 milhões (2013).

 

RETROSPECTO DAS VERBAS DA SAÚDE NO ESTADO

Os valores que foram destinados pelo governo do Rio Grande do Sul para a área da saúde, em conformidade com a Emenda Constitucional 29:

- 2010 - R$ 1,03 bilhão;

- 2011 - R$ 1,14 bilhão;

- 2012 - R$ 1,5 bilhão;

- 2013 - R$ 2,22 bilhões;

 

*Dados fornecidos pela Secretaria Estadual da Saúde. Fonte: Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, a partir de dados do Tribunal de Contas do Estado

 

Como Santa Cruz conquistou seu Centro de Radioterapia

O Centro de Radioterapia Hospital Ana Nery, inaugurado em 2007, é hoje a referência regional pelo SUS como Unidade de Alta Complexidade para Tratamento Oncológico. O serviço foi resultado de uma campanha lançada em 2002 que contou com a mobilização de toda a comunidade dos Vales. O complexo, de 2.960m2, custou aproximadamente cinco milhões de reais e tem capacidade de atendimento de aproximadamente 100 pessoas por dia.

O atendimento pelo SUS começou 7 meses depois da Unimed e IPE, sendo que os pacientes do SUS vêm de cidades da 13ª e 8ª Coordenadoria Regional de Saúde (regiões de Santa Cruz do Sul e Cachoeira). Além disto, o Hospital Ana Nery recebeu solicitação para atender também alguns municípios da região da 4ª Coordenadoria (Santa Maria).

Na época, o secretário da Saúde, Osmar Terra, havia anunciado que tanto Lajeado quanto Santa Cruz do Sul teriam seus Centros de Radioterapia, entretanto Lajeado se antecipou e concluiu seu centro de atendimento primeiro. Deste modo, Lajeado atendia a região dos Vales até Santa Cruz aprontar seu centro de radiologia.

Quando o centro do Hospital Ana Nery começou a funcionar, a solução encontrada foi redimensionar as áreas onde os dois serviços iriam funcionar, em caráter macrorregional. Assim, a área atendida por Santa Cruz se estendeu em direção ao Sul, indo até Encruzilhada do Sul e Caçapava do Sul. E Lajeado passou a prestar serviços para a região de Salto do Jacuí.

A delimitação exata da área de influência de cada um depende de estudos técnicos, muitas vezes sendo necessário adaptar as áreas de abrangência de cada unidade.

 

Falta de equipamentos torna longa a espera por radioterapia

Levantamento do Tribunal de Contas da União, feito em 2012, calcula que o serviço de radioterapia pelo SUS cobre apenas 65,9% da demanda em todo Brasil. O RS atende só 40% dos doentes de câncer que precisam desse tratamento. Faltam, só no Estado, 33 equipamentos - hoje há apenas 13 -, segundo o Departamento de Atenção Especial do Ministério da Saúde.

Apesar das carências legislação recente determina o tempo máximo de 60 dias para o início do tratamento após o diagnóstico. "Muitas vezes o paciente que tinha chance de cura na hora do diagnóstico acaba não tendo mais. É um prejuízo inestimável" avalia Robson Ferrigno, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBR). Estudos do Instituto Nacional do Câncer (Inca) projetam 520 mil novos casos de câncer em 2012. Do total, 60% precisarão de radioterapia em pelo menos uma fase do tratamento. A conta não fecha. No Brasil, faltam 115 equipamentos.

Com o plano de expansão lançando pelo governo federal, o Estado está recebendo melhorias em cinco unidades, das quais três serão ampliadas e duas terão o serviço de radioterapia criado - os hospitais de Clínicas, Conceição e São Lucas, em Porto Alegre, o Centenário, em São Leopoldo, e o Regina, em Novo Hamburgo. Além desses, há quatro serviços em implantação: em Santa Rosa, Santa Maria, Erechim e Caxias do Sul. Ao todo, no país, serão criados 48 serviços de radioterapia e expansão de 32 serviços já existentes que atendem SUS, com investimento de R$ 505 milhões.

 

Quais as vantagens do tratamento do câncer por radioterapia

De acordo com João L. F. da Silva, radioterapeuta que tratou o câncer do ex-presidente Lula, a quimioterapia tem efeitos sistêmicos, pois é feita pela veia ou pela boca, e a radio tem efeitos colaterais basicamente no local ou na região do entorno. "Se fizer radioterapia na próstata, na coxa ou na mama, não cairá o cabelo. Se fizer quimio, vai cair cabelo, pois os efeitos são sistêmicos", explicou.

Existe um número maior de remédios porque a indústria farmacêutica investe muito. Os aparelhos da rede pública hoje não são suficientes. Quase 100 mil casos que precisaram de radioterapia no ano passado não foram atendidos. Porém, o governo está adquirindo este ano 80 novos aparelhos. O tratamento de pessoas influentes deve ter sensibilizado os governantes para o tratamento público, conforme opinou o especialista, em entrevista recente à imprensa gaúcha.